PAULINHO MOSKA

 

 

 

Quando era criança, Paulinho Moska gostava de colecionar coisas. Coisas de todos os tipos. Tampinhas de garrafa, selos, conchas, latinhas de refrigerante, quadrinhos. Não estacionava o interesse em um tema único. Queria experimentar tudo o que lhe parecesse suficientemente bonito, estranho, divertido, instigante. Figurinhas, discos, pedras, fotografias, chaves. E assim o menino montou, tijolo por tijolo, o mundo em que pretendia viver: costurando informações das áreas mais variadas, colando fragmentos de sons e pedaços de imagens de todos os tipos e origens.

 

Esse caleidoscópio de vontades, perspectivas e possibilidades ainda guia o homem Paulinho Moska – ou simplesmente Moska, como ele assina nos últimos tempos. Também construiu sua carreira artística, sua discografia, canções inspiradas e se reflete, desde o título, em “Muito Pouco Para Todos” (2013), pacote de CD e DVD gravados ao vivo que ele lançou por seu selo Casulo, com distribuição da Sony Music, até o novo show “Violoz”, com produção Liga Entretenimento.

 

São 20 anos de carreira solo, e a data redonda até justificaria um trabalho retrospectivo. Mas a ideia aqui não era rever nada. Ao contrário. Moska aproveitou um show no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, para ir adiante com as canções. Criou, no palco, um filme-colagem. Uma série (coleção?) de videoclipes cuja amarração dramática é feita pelos versos e climas das próprias canções.

 

O Amor, em seus vários estados, é o cerne do roteiro. E a maior parte dos capítulos dessa história amorosa vem justamente do álbum duplo “Muito Pouco”, trabalho em estúdio do Moska, lançado em 2010. Mas canções de outros tempos foram pinçadas para ajudar na construção da trama: clássicos como “O Último Dia” (1995), “A Seta e o Alvo” (1997), “Um Móbile no Furacão” (1999), “Tudo Novo de Novo” e “Pensando em Você” (2003).

 

Tanto as novas quanto as mais antigas, cada música ganhou, no vídeo, um elemento que amplia seus significados. Um objeto de cena, uma coreografia, um efeito de câmera ou qualquer toque visual que a tira do estado puro de canção. E a coloca no palco também como texto, como imagem, como cinema.

 

Assim, o roteiro parte do começo da vida (e do amor). Primeira canção do show, “Semicoisas” usa a imagem de um ultrassom. Não qualquer ultrassom, mas o de Valentim, filho mais novo de Moska. Em seguida, “O Tom do Amor” mostra os primeiros desenhos do filho mais velho, Antonio. A narrativa segue até “O Último Dia”, e, a essa altura, já está claro que ela não é só um retrato da vida do artista, mas também da de quem assiste. É como música de novela, que começa embalando a história de um personagem, mas, no correr da trama, ganha vida e vira a música de todo mundo.

 

No novo show intitulado de “Violoz”, Paulinho Moska é mais que uma voz e um violão. Pela primeira vez decidiu levar seus violões preferidos pra estrada e fazer um show onde possa tocar diferentemente suas canções. Um violão com cordas de Nylon, um violão com cordas de aço, um violão barítono (afinado em Si), um violão híbrido (violão guitarra) e um ukelelê são, agora, os parceiros do artista. As canções vão derramando suas poesias como um longa metragem. É um show pra cantar junto, chorar e sorrir, numa noite cheia de alegria e paixão, de pensamento e delírio, de transcendência e pé no chão.

 

Em “Loucura Total” (2015), gravado em português e espanhol, numa parceria com o compositor argentino Fito Páez, o álbum conta com 12 faixas que mistura salsa, samba e até rock.

 

Moska já emplacou 13 temas em trilhas da TV Globo – 11 deles, em sua própria voz. São músicas que se tornaram bem populares em novelas e minisséries, como “O Último Dia” (“O Fim do Mundo)”, “A Seta e o Alvo” (“Zazá”), “Pensando em Você” (“Agora É que São Elas”) e “Tudo Novo de Novo” (tema de abertura da minissérie homônima).

 

Também se tornou um compositor muito requisitado por outras vozes. A primeira foi Marina Lima, que, em 1995, abriu o álbum “Abrigo” com “Admito que Perdi”. Depois, vieram inúmeras outras gravações, por artistas como Maria Bethania (“Saudade”), Elba Ramalho (“Relampiano”), Ney Matogrosso (“O Último Dia” e “Gotas do Tempo Puro”), Maria Rita (“Muito Pouco”), Mart’nália (“Soneto do Teu Corpo”, “Sem Dizer Adeus” e “Namora Comigo”), Lenine (“Relampiano” e “Saudade”), Francis Hime (“Há Controvérsias”) e Zélia Duncan (“Carne e Osso”, “Não” e “Sinto Encanto”), entre tantas.

 

Foi no álbum “Tudo Novo de Novo” (2003) que Moska deu partida numa relação, hoje muito íntima, com artistas da América do Sul. Ali está gravada “A Idade do Céu”, versão sua para um tema do uruguaio Jorge Drexler que depois faria sucesso também nas vozes de Simone e Zélia Duncan. Drexler veio ao Brasil participar do show de lançamento desse disco, no Canecão. E, em resposta, convidou Moska para uma série de apresentações no Uruguai e na Argentina.

 

Um dos primeiros músicos que conheceu nesse contexto foi o argentino Kevin Johansen, que participa de “Muito Pouco Para Todos”. No DVD, eles repetem ao vivo o dueto feito em estúdio na canção “Waiting for the Sun to Shine”. E refazem “A Idade do Céu”, que acabou por se tornar a canção-símbolo da relação de Moska com os hermanos.

 

Em nome dessa relação, aliás, Moska já organizou e dirigiu dois festivais de música: o Mercosul Musical, em 2008, e o Soy Loco Por Ti America, em 2011. A filosofia era juntar, em duos, artistas brasileiros (como Arnaldo Antunes, Paula Toller e Vitor Ramil) com sul-americanos (como Drexler, Johansen e Pedro Aznar). Seu trabalho era intuir afinidades e fazer as pontes entre um nome daqui e outro de lá. Mais um ofício para a sua coleção.

 

As primeiras gravações profissionais de Moska aconteceram no álbum de estreia do grupo vocal Garganta Profunda, “A Orquestra de Vozes” (1986). Nesse mesmo período, ao lado de outros integrantes do Garganta, planejou aquela que seria sua maior experiência pop nos anos 1980: os Inimigos do Rei. Com a banda, lançou dois discos, emplacou nacionalmente os hits “Uma Barata Chamada Kafka” e “Adelaide” e correu país por dois anos.

 

 


 

 

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